Improvisação boa só se dá após um estudo e trabalhos árduos, quando o corpo consegue e "possui" os passos em seu repertório, quando a intuição está apurada e aguçada para identificar as próximas fases da música e claro, quando a bailarina possui uma sensibilidade aguçada para interpretar as nuances diferentes de uma música árabe.
E tudo isso não vem na sorte, à toa ou quando nos entregamos como "loucas": é só deixar tocar que danço!
Não e não! Improvisar, não só para mim como para as minhas professoras é: fazer de forma consciente os passos juntamente com a entrega e para isso é necessário estudar bem a música - esse negócio de improvisar uma música que não conhece nem sempre é o caminho correto para realizar uma boa improvisação.
Com muitos treinos e estudo, conseguimos identificar a estrutura básica de uma música árabe, e assim... como eu já escrevi, nesse momento a nossa intuição e sensibilização já estão aguçadas... é claro que para termos elas também há vários exercícios e lições a serem feitas.
A improvisação não está presente apenas nas danças orientais, antes mesmo dos movimentos se tornarem uma dança padronizada, os homens se comunicavam por gestos, sons, e não pensavam exatamente no que iam fazer, ou melhor, seus movimentos eram criados a partir das emoções e das sensações.
Somos um corpo vivo, com células e sistemas, não esqueçamos do sistema nervoso o qual envia energias para os músculos, ditados pelo cérebro... uma máquina perfeita impossível explicá-la apenas pela razão.
Gosto muito do texto de Mara F. Guerreiro, da UFBA, "Formas de Improvisação na Dança". De forma resumida e fácil ela explica bem melhor tudo isso que em dois posts, tentei falar.
‘A improvisação’ não pode ser tratada como um modo único, monolítico, de organização. Lisa Nelson e Steve Paxton (apud KATZ, 2000) defendem a necessidade de empregar nomes adequados para cada tipo de improvisação. Segundo Nelson e Paxton, improvisação “é uma palavra escorregadia”, muito genérica, exigindo um trabalho de classificação e detalhamento. (...)
São propostos dois modos de uso gerais: 1 improvisação sem acordos prévios; 2 improvisação com acordos prévios, que se subdivide em duas classes: 2.1 improvisação em processos de criação; 2.2
improvisação com roteiros.
O primeiro tipo é o mais usado por nós, o Improvisação sem acordos prévios, que nada mais é que não combinar nada, nem ensaiar e ter total autonomia e responsabilidade do resultado da apresentação, que é feita e criada na hora, apenas escolhe a música ou marca algumas ações. E vejam que observações importantes:
Carter (2000) alerta para o risco da repetição de padrões habituais tanto dos artistas como do público, em relação aos
velhos padrões sobre fazer e assistir dança. Ele afirma que é necessário olhar para essa forma de
improvisação sem as expectativas de eficiência ou de espetáculo.
E como é recorrente o incômodo desse tipo de improvisação, alguns bailarinos, Dunn, Paxton, Nelson, Hagendoorn, Zambran, criaram os treinamentos:
As formulações de treinamentos têm como propósito ampliar: repertório de
movimento, atenção, percepção e entendimento sobre composição; exige repetição, método,
pré-estabelece movimentos, focos de atenção e objetivos sobre composição. Este ‘preparo’
replica as tendências praticadas, e dessa forma, torna-se possível identificar interesses
compartilhados.
O segundo tipo que é a Improvisação com acordos prévios não é muito usado na nossa área porém, podemos conhecer e começar a usar, pois tem ações bem interessantes:
2.1 Improvisação em processos de criação
Trata-se de processos de criação que contam com improvisação como fomentadora de
suas investigações. Esses processos ocorrem no período anterior à apresentação da dança, são
experimentos realizados entre artistas, durante ensaios, que posteriormente se formalizarão em
composições.
2.2. Improvisação com roteiros
O termo roteiro aqui é adotado como regras prévias, relativas a condições e possibilidades de ocorrência da improvisação. Os roteiros servem como parâmetros, definindo: desenvolvimento da improvisação; e/ou tipos de movimentos; e/ou relações entre dança e outras linguagens; e/ou relações entre artistas; e/ou relação com público; etc. São restrições pré determinadas a serem agenciadas durante apresentação, mantendo autonomia do artista sobre a composição.
Bom... essas são algumas teorias sobre o tema, e dançar não é apenas se movimentar, como qualquer linguagem artística é dedicação, estudo, experimentação e trabalho corporal e teórico também. espero que seja útil à alguém.
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