sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Uma boa improvisação nasce de um bom trabalho corporal - Parte 1

Já escutaram a seguinte afirmação: "Quando se faz errado, treina errado e o corpo aprende errado" - e o resultado disso são os vícios, passos executados da forma incorreta, exageros na expressão corporal ou facial e os dois e etc.

E acredito que todas que iniciaram na dança do ventre odiavam o momento da improvisação e não imaginavam o quanto era importante para o processo de aprendizado. Eu queria fugir, me esconder... mas encarava! E minha prof. não era moleza não, já dava músicas clássica com 10 min. e falava: "Uma boa bailarina tem que saber dançar 10 min improvisados".

Mas... o que fazer para improvisar da forma correta? Como improvisar e sair feliz com ela numa apresentação?

Como improvisar de forma consciente? - essa é a questão.

Na dança acadêmica, a improvisação é uma forma de composição para o corpo, surgiu com Isadora Duncan, Merce Cunnighan, Laban e outros transgressores da arte, que revolucionaram a forma de dançar e coreografar, permitindo que coreógrafos e bailarinos participassem do processo de criação.

A coreografia não era a única forma de montar um espetáculo.

Nas danças folclórica e populares, a improvisação faz parte delas, ai entra dança de salão, a nossa dança do ventre, o samba e etc.

Cresci na dança do ventre escutando que era super importante saber improvisar, e é! Mas depois de tantos erros, aprendi também que minha improvisação só melhorou no momento em que, além de estudar muito as músicas, me dediquei muito aos estudos de passos, de bailarinas através de vídeos e procurei fazer sempre uma leitura apurada dos instrumentos.

Trabalhar o corpo e estudar os passos, sequências e treinar repetindo sempre - assim meu corpo adquiriu um repertório para ser usado em qualquer momento na dança árabe.

Mas isso é super etéreo, não é? A maioria das bailarinas acham que improvisar é se jogar, dar a louca, "sentir a música"... errado! Só quando o corpo entender os movimentos de forma consciente, porque ele tem uma memória, é que a bailarina conseguirá improvisar da melhor maneira possível.

Antes de falar da Memória Corporal, devemos estudar a música árabe e perceber que a clássica padrão, tem a mesmo forma, basicamente:

introdução, entrada (normalmente com maksum), transição para uma baladi, taksins, folclore básico (apenas uma parte), derbake, finalização, encerramento com a mesma entrada.

É uma receita de bolo, se estudarmos cada parte dela, praticar todas as possibilidades, você saberá improvisar bem uma música clássica. Convenhamos que essa estrutura é a união de tudo da dança do ventre, por isso que uma clássica de 10 min permite à bailarina mostrar toda a sua técnica.

O corpo é um sistema funcional e vivo, tem seus esquemas e sua inteligência próprias, no momento em que improvisamos usamos essas inteligências ou não, e o colocamos em prova à mudanças, ao novo e ao desafio.

Por isso que é tão difícil improvisar, e quando o fazemos, quem não estuda sempre faz a mesma coisa!

E a Dança também é um sistema: de códigos, de mensagens, de passos e estruturas.

... "a improvisação é uma conquista que precisa de tempo, precisa ser temporalizada naquele sistema".
 Cleide Fernandes Martins • 01/01/2003 

No próximo post escreverei a segunda parte!



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