sexta-feira, 26 de junho de 2009

Notas esparsas sobre corpos negros

Por Marcello Castilho Avellar · 27/07/2007
Idança.net


Relatos de terceiros, I – Quando Luiz de Abreu apresentou na Serra da Capivara seu Samba do crioulo doido, recebeu ameaças de autoridades locais. Está certo que uma coreografia em que a bandeira nacional é exibida presa ao traseiro de um bailarino deve incomodar as pessoas, principalmente aquelas que têm a idéia de pátria mais arraigada em suas convicções. Mas o símbolo nacional deve representar a nação – suas contradições e problemas, inclusive. Se a bandeira não é capaz de representar a condição dos negros no Brasil, é hora de trocar de bandeira. Ou de Brasil.

Perguntas inocentes, I – Até que ponto a reação a Luiz de Abreu na Serra da Capivara foi provocada pelo fato de o traseiro em questão ser negro? Um traseiro branco e burguês teria gerado a mesma controvérsia, ou, pelo menos, controvérsia tão próxima da agressão física.
Memórias de espetáculos, I – “A carne… A carne mais barata… A carne mais barata do mercado… A carne mais barata do mercado é a carne negra”. O que é aquilo que dança ao som desta canção em Samba do crioulo doido? Não é um corpo negro, mas a caricatura de um corpo negro, a caricatura construída por toda a sociedade brasileira ao longo de quase cinco séculos de escravidão. O mais terrível de tudo é a lembrança da estréia da coreografia em São Paulo, no Rumos Dança: como a maioria de nós ria, a maioria de nós supostamente brancos se divertia com aquilo, não era capaz de perceber a tragédia que o bailarino nos apresentava.

Considerações teóricas, I – Nos últimos tempos, falar de dança significa, necessariamente, falar de corpos. Surpreende a maneira como o debate sobre dança – e, portanto, sobre corpos – no Brasil vem, sistematicamente, escamoteando a questão da carne. E, portanto, a questão da carne mais barata no mercado.

Relatos de terceiros, II – Mais uma do Luiz de Abreu. Quando ele chegou a Salvador em 2006, para construir Máquina de desgastar gente, houve quem reclamasse: “Pô que saco, lá vem o cara de novo com seus espetáculos que falam que tem racismo na Bahia…”

Aforismos soltos, I – Ignorar os ratos não salva a despensa.

Perguntas inocentes, II – Quantas vezes já vimos Odette, de O lago dos cisnes, ou Coppelia, dançadas por bailarinas negras. Ah, mas tem a questão do physique du rôle, lembrará alguém. Quem disse que personagens de contos de fadas europeus precisam ser menininhos e menininhas de pele leitosa. Mais ainda, quem disse que o Doutor Coppelius criou uma boneca branca? E por que diabos ninguém acha esquisito, quando se encena Le corsaire, aquele monte de escravos árabes, ou um sultão turco, interpretados por brancos? E o que dizer das montagens de La bayadére?

Memórias de espetáculos, II – No final de Máquina de desgastar gente, os bailarinos dançam como bonecos de caixa de música, regulados para o movimento que a sociedade branca e burguesa espera de intérpretes negros, independente de a trilha sonora trazer uma polca ou algo nos arredores do axé. Os gestos são claros, integram o repertório do lixo cultural com que a Bahia vem conquistando espaço no mercado turístico, muitas vezes às custas de sua identidade e sua alma. Meu mal-humorado advogado do diabo vai dizer que aquilo existe por causa da gringaiada, que é “pra inglês ver”. Só que a maior parte dos turistas na Bahia continua sendo de brasileiros. Brancos e burgueses.

Considerações teóricas, II – O debate sobre cotas nas universidades brasileiras expôs o pior em muitos de nós. A partir dele, livros e entrevistas vêm defendendo algumas teses esdrúxulas. A mais nefasta delas é que, como a genética afirma que não existem diferenças entre raças, o estado não pode legislar a partir delas. Para discriminar alguém (seja chamá-lo de “nego fedido”, seja achar que não tem o physique du rôle para interpretar Odette), ninguém pede exame de DNA. Para enfrentar a discriminação, a exigência, no discurso neo-racista, é obrigatória. E viva a democracia racial brasileira.

Aforismos soltos, II – Minta. Minta. Minta. Alguém acabará acreditando no que você diz. Mesmo num possível conforto da senzala.

Relatos de terceiros, III – Boa parte da moçadinha do Balé de Rua, de Uberlândia, veio dos bairros mais pobres da cidade. Antes de se tornarem bailarinos profissionais, tinham ocupações típicas da gente dos bairros mais pobres de qualquer cidade. Trabalho braçal. Não especializado. Será mera coincidência que sejam todos negros, mulatos ou categorias semelhantes.

Considerações teóricas, III – Pesquisa recente sobre raças (categoria “inexistente”, como já vimos…) no Brasil revelou que as conseqüências econômicas do racismo tendem a aumentar à medida que se ascende em termos de poder aquisitivo. Se você é negro e rico, suas chances de estar mais pobre daqui a um ano são bem maiores que se você é negro e pobre. Não há por que discriminar – tanto – um negro que está por baixo. O perigo são aqueles que pensam que “são gente”, que se comportam como profissionais liberais, pequenos empresários, classe média. Artistas incluídos. Em resumo, Píer Paolo Pasolini tinha razão: as classes pobres são mais tolerantes que as ricas. Ele afirmou isso em relação à sexualidade – ou seja, ao corpo –, mas até esse aspecto pode ser aplicado aqui: será que na favela alguém acha tão ruim sua filha se casar com um garoto negro?

Perguntas inocentes, IV – Voltando à questão do physique du rôle. A tese do racismo na dança clássica brasileira não seria negada pela profusão de rapazes negros ou mulatos que se apresentam em festivais de academias? Não. Ao contrário, afirma-a. A regra do physique du rôle, como tantas outras, só vale enquanto não atrapalha o faturamento. Se o Príncipe Siegfried for cubano, melhor ainda – dá prestígio à escola. Volta e meia tem professor brasileiro reclamando que os cubanos estão invadindo seu mercado de trabalho – mas a reclamação só vale até a hora do festival. Racismo e xenofobia caminham juntos.

Memórias de filmes, I – Todo mundo deveria assistir a O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburger. No momento mais redentor do filme (são muitos), o menino protagonista vê o goleiro negro saltar inacreditavelmente para defender seu gol. O garoto, na hora, sabe o que quer ser quando crescer: “negro e voador”. Pelo menos uma mente saudável entre nós consegue perceber cristalinamente as coisas como deveriam ser: se a raça não é categoria biológica, mas social (“etnia”, como sugerem os politicamente corretos), deveríamos poder optar por ela, ou pelo menos lutar por pertencer a ela. Da cena no filme, podemos imaginar uma sociedade sem racismo, onde fosse absolutamente natural um garoto falar a seus pais que quer ser negro, querendo dizer com isso que pretende mergulhar nos valores da cultura negra, independente de qualquer coisa semelhante à cor da pele. Natural, e não escandaloso ou engraçado, nem para negros, nem para brancos.

Considerações teóricas, IV – Se a visão de raça (que, como já vimos, é racista e conservadora) identifica o corpo como sede da distinção, é no corpo que ela precisa ser combatida. Fácil perceber, então, a importância que a dança pode ter nesse combate. Pensando como Steven Biko, líder sul-africano assassinado pelo apartheid, seria necessário, num primeiro momento, assumir integralmente a negritude dos corpos negros e a branquitude dos corpos brancos, rejeitar os simulacros de uma categoria que se impõem à outra. Se formos capazes de rejeitar o embranquecimento quase obrigatório dos corpos negros (representado por modos de ser e agir impostos pela cultura burguesa), e de denunciar, simultaneamente, o simulacro de enegrecimento com que os corpos brancos tentam diminuir sua culpa por todo o processo (signos de cultura negra usados apenas por gosto, sem significado político ou cultural)… Bem, talvez possamos chegar àquele momento utópico em que expressões como “corpo negro”, “corpo branco”, “dança afro-brasileira” ou “raízes européias” percam completamente seu sentido como categorias.

Memórias de espetáculos, III – Num solo de O corpo negro na dança, o bailarino do Balé de Rua percorre o palco, a boca aberta num grito horrendo, que lembra o quadro de Munch, o corpo crispado em tensão permanente. Dor, muita dor, é a sensação que percorre a platéia. Aquela pessoa está sofrendo, as pessoas que ela representa estão sofrendo. Por mais que a dança queira falar apenas de dança, não há como, eventualmente, resvalar para a pantomima, porque eu, espectador, tenho um corpo que funciona do mesmo jeito que o corpo do bailarino, e inconscientemente reconheço no meu corpo aquela tensão muscular e aquela expressão, e sei exatamente o quanto doem os momentos em que estão presentes em mim.

Perguntas inocentes, V – Por que o grito munchiano de O corpo negro na dança mexe tanto com as pessoas? Porque é sincero. Porque é verdadeiro. Porque coreógrafo, bailarino e a companhia inteira sabem exatamente do que estão falando, sabem por experiência própria, não por conhecimento acadêmico.

Memórias de espetáculos, IV – Não lembro o nome da coreografia, sorry, mas era algo da Membros, creio que coreografado pelo Bruno Beltrão, e os bailarinos literalmente subiam pelas paredes, e a imagem era a da tensão da cidade grande, jovens que não seriam necessariamente marginais sendo perseguidos, não por serem marginais, mas por serem da periferia – o que no Brasil significa quase necessariamente serem negros. Nunca vi algo que me falasse tanto daquela condição do jovem da periferia. Membros e Balé de Rua são irmãos naquela categoria de verdade dada em primeira mão, pela experiência.

Considerações teóricas, IV – Ao tratar de loucos e presos, Michel Foucault chegou à incômoda conclusão de que a única luta legítima em benefício deles seria conduzida por eles mesmos. Terceiros – como o próprio Foucault ou seus colegas intelectuais (“sãos” e “livres”) – poderiam até estudar a questão, mas nunca ser os porta-vozes dela, ou os soldados da luta. É possível que o mesmo raciocínio seja aplicável à questão dos negros no Brasil. E é por isso que os trabalhos de Luiz de Abreu, Balé de Rua, Membros e outros (infelizmente, poucos…) são tão magníficos. Discursos na primeira pessoa. Cargas de fuzil contra a muralha do discurso branco e burguês que jura que não há racismo no Brasil. Como o atacante suicida que se lança, o cinto repleto de bombas, contra o quartel dos soldados que ocupam seu país, os corpos negros de nossos bailarinos negros detonam nossas confortáveis convicções.

Paradoxo final, único – O autor é branco e burguês, de modo que seu texto, a priori, é bem menos legítimo e, portanto, menos capaz de transformações que qualquer dos balés citados acima.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Um novo blog

Criei um novo blog: Novos Olhares - para discutir design, artes, filosofia e estética!
Visitem!

Semana dura: fechamentos de nota no Senac, preparação pro seminário no sábado, trabalhos... próxima semana, estou de volta.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Olha a corrente das bellydancers ai gente!

Respondendo as memes:

Que música...

…você dançaria agora? Um bolero de Mario Lirlis

te deixa feliz? Um folclore bem dançado

...te arrepia? Inta Ori - OM KALTHOUM - na verdade todas dela me arrepia!

…você dançaria com banda? Set el Hosen - clássico é clássico né gente!

você jamais dançaria? Albi, e alguns popizinhos básicos sabe?

…é perfeita para seduzir? Olha... tenho paixão pela Qsad Einy do Amr Diab!

…você dançaria para sua profe do coração?
Por enquanto estou sem prof... mas já dancei pra tdas elas, e claro que dançaria outras vezes

…te traz boas lembranças? Meu primeiro solo: Shik Shak Shok - hahahaha acho que tdas já dançaram essa né?

…te faz chorar? Não sou de dançar músicas dramáticas, adoro um taksim mas tenho outras interpretações mas... adoro a Ansak - Om Kalthoum

...você escuta sem nunca enjoar? Várias... difícil escolher uma, mas, escolho a Tamil

…você dedica para quem te enviou esse meme? Uma música do Hossam pra Layla - Claaaaaaaaaro!! rs

As próximas: Janahina - Giovana - Dana el Fareda

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Plagio

Iria falar sobre música árabe, mas... ontemn passeando pelos blogs me deparei com uma coisa chatíssima que aconteceu com a Layla Khodair, não consegui ficar inerte e ainda penso:
_Como, ainda, consigo acreditar nas pessoas? O ser humano é incrível!!

Literalmente plagiaram um trabalho dela de meses, detalhe: um trabalho único, criação dela, ou seja, ela é pioneira no assunto. E o pior... literalmente, pegaram a caricatura criada pelo Masili, e a usaram. Mais detalhes leiam vocês próprios no Blog dela.

É por essas coisas que eu tirei meu site com meu trabalho de design do ar, se ao ser entrevistada eu corria o risco de copiarem meu trabalho, imagine deixar tudo na net? E o pior que corremos o risco de sermos plagiadas em tudo. A internet tem seus pontos positivos mas também tem os negativos.

Fui me informar sobre o assunto e para informar a todos colocarei algumas informações aqui e alguns links.

Achei um site legal com vários links informativos: Plagio - E dele vou copiar uma parte:

Infelizmente, quem copia conta com a dificuldade de se identificar, muitas vezes, a origem legitima daquela obra. Portanto, podemos ter fracassados que são um sucesso e pessoas sem ética tidas como parâmetros de conduta. Daí a importância de se rastrear e identificar o plágio, além de levá-lo às conseqüências legais cabíveis (lei nº 9.610, de 19.02.98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais, publicada no D.O.U. de 20.02.98, Seção I, pág. 3 por decreto do então presidente FERNANDO HENRIQUE CARDOSO).
Uma vez que esta página pretende ser um acréscimo que enriqueça o debate sobre plágio e não mais um texto redundante, indico para uma discussão bastante interessante sobre plágio a página de Augusto C. B. Areal em
http://www.persocom.com.br/brasilia/plagio1.htm#registro Outra página fundamental é a da Biblioteca Nacional, onde existem as orientações de como proceder para registrar sua obra, seja texto escrito, fotografia, partitura musical, etc.: http://www.bn.br/Script/index.asp No fim da página à direita há o ícone do "Escritório de direitos autorais". Esse registro não garante que ninguém vá copiar o seu trabalho, mas lhe dá o subsídio para combatê-lo por vias legais.

Do blog da Sandra Pontes:

"Das obras protegidas
Art.7 São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível, ou intangível, conhecido ou que se invente, no futuro, tais como:

I - textos de obras literárias, artísticas ou científicas;
..."

Ã? E ai? Achei interessante que até o que criaremos no futuro já estão protegidos? Beleza, e tudo o que foi criado por nós, em qualquer meio, lugar, forma e etc também é protegido...

Ainda no site dela, há uma orientação para quem quer registrar seu trabalho, no site da Fundação Biblioteca Nacional há toda orientação. E há um site sobre Direito Autoral.

Plágio além de ser crime, é imoral, profano, anti-ético... mais do que falta de educação... é total falta de cárater.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Arabian Cabaret

E ontem conheci a Bárbara, uma fofíssima e agora também faço parte do projeto Arabian Cabaret.

domingo, 14 de junho de 2009

Simples Prazeres

1 - Comer toda casquinha de chocolate e deixar por último a bolinha de amendoim do Sonho de Valsa.
2- Andar descalça.
3 - Colocar as mãos num saco de sementes.
4 - Ouvir músicas e cantá-las no banho.
5 - Brincar com a Sandy (minha labradora).
6 - Alongar meu corpo.
7 - Estourar aquele papel bolha, sabe? O que vem sempre quando compramos algum eletrodoméstico.
8 - Cheiro de café, canela e livro novo.
9 - Cola branca nas mãos, depois de seca é uma delícia descascá-la.
10 - Beijar, abraçar, sorrir... tudo isso é mto bom!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Só pra passar o tempo

Feriadão chegando, e eu ficarei de molho: arranquei + dois dentes (Cara! como está doendo! Tô impaciente!) - e aproveitarei, como não darei aulas, pra descansar na praia. Sim! Mesmo com esse tempo irei pra lá, adoro o ar, o clima mesmo com chuva, a praia sempre me renova.

E assim... pra quem tem namorado, feliz dia dos namorados, e pros solteiros, também um feliz dia, nada como curtir a si mesmo - aaaiiiii q horror, frase de solteirona kkkkk! Aproveitando o momento "piegas", coloco pra vocês o clip do Qsad Einy, do querídissimo Amr Diab e da Bela e a Fera, (para relembrar o musical). Adoro as duas músicas, são lindas pra ouvir e dançar.



terça-feira, 9 de junho de 2009

O superego parte 2 - a explicação

Vou retomar do post sobre o superego... meninas! Acho que não fui bem explícita no que queria dizer, porque não estava discutindo sobre cópias, criações e etc. Queria apenas falar de como a nossa auto análise atrapalha nosso processo criativo. E essa auto análise, a auto crítica, são frutos do superego (bem resumido é a moral, os bons costumes, as regras inconscientes).

Como muitas vezes nos limitamos a fazer as mesmas coisas, não nos permitindo experimentar o novo, devido ao medo de errar ou ser rídiculo para os outros. E citei alguns artistas inovadores... imagina se eles tivessem desistido dos seus processos criativos?

Claro que há a frase: Nada se cria tudo se copia - não copiamos várias bailarinas, quando as estudamos? Porém... a nossa forma de decodificar a linguagem pode ser criativa e inovadora. Afinal, cada um tem seu corpo, sua linguagem, suas vontades, suas limitações e suas interpretações.

Agora, mais um exemplo, dessa vez ponho o video de Pina Baush com Cafe Muller - no filme Fale com Ela, do Almódovar tem um trechinho desse espetáculo. Ela dança direto com os olhos fechados e é criadora da modalidade Dança - Teatro.


segunda-feira, 8 de junho de 2009

Finalmente: A Bela e a Fera

Ontem, depois de um irônico episódio (não vale a pena contar), fomos assistir A Bela e a Fera. Nem preciso dizer que adorei né? É tudo mágico, lindo, perfeito, parece que o próprio desenho acontecia ali mesmo. Sai encantada, durante as quase 3 horas de espetáculo, fora transportada para outro mundo e pude esquecer um pouco da realidade.




Lá na frente, não podia deixar de tirar... e com a Rô - depois... rumo ao Remelexo!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O artista e o superego

É fato que todo artista se cobra demais, exige de si mesmo algo sobrenatural, e nunca pára de buscar a perfeição. E a perfeição existe? Ou ela é relativa, muda de acordo com o momento e a época, ou melhor... pode ser muitas coisas ao mesmo tempo.

Quem nunca olhou pro passado e se perguntou: Caramba! Como tive coragem de fazer isso? - As da dança do ventre, principalmente - Como usei essa roupa? Como usei esses braços? E etc... por ai vai. Mas não será também um processo, um aprendizado, e se nos limitarmos ao não experienciá-los, estaremos nos limitando a aprender?

Muitas vezes o artista cria e ao mesmo tempo destroi, por achar ruim, isso, antes de mostrar à alguém. E nossa criação, seja ela uma coreografia, uma música, uma pintura ou performance, acaba sendo nosso "filhote" - é horrível receber críticas.

E nessa luta com o superego, que é insconsciente, uma cobrança constante da moral, dos bons costumes, do correto, nem percebemos que anulamos nossos desejos, nossos impulsos... desde "sociedade" deseja.

Assim, deixamos o experimentalismo de lado, a curiosidade, a criatividade, o questionamento, a busca de ver como seria se fosse feito do outro jeito... e isso, para mim, é o ínicio de qualquer processo criativo, seja ele na dança, ou em qualquer linguagem artística.

Antes de ser professora, bailarina de dança do ventre, sou uma artista e sinto falta de ousadia, experimentalismo. Vejo isso em minhas aulas, é mais fácil realizar algo coreográfico, figurativo do que algo libertário e abstrato. As pessoas se auto limitam com medo de errar.

Foto de Marcel Dunchamp

Citarei apenas alguns nomes, porque senão nunca acabaria esse post. O que seria das artes, sem o Duchamp ou Tizan com o manifesto Dadá? Olha um poema:

Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.
Foto de Tzan Tzara

Das nossas artes sem o concretivismo, abstracionismo e a criação dos paragolés e da arte experimental do Hélio Oiticica? Na música com os Mutantes, Secos e Molhados, Lenine...?

E da dança sem Isadora Duncan (existem outros, mas citarei apenas ela)? A primeira a se libertar das duras sapatilhas de ponta, do tuttu, e da rigidez do ballet. Na dança do ventre conhecemos várias bailarinas que ousaram em mudar o figurino, acrescentar alguns passos, misturar músicas, e hoje tem muita gente boa fazendo isso: Adoro!! Apesar de eu ser "clássica", adoro inovar e radicalizar - os opostos se complementam.

Mas porque não falar do Mahmoud Reda? Ele não pegou o popular, acrescentou a dança clássica, para criar espetáculos de folclore árabe? Modificou para criar as apresentações de palco, mas eternizou a sua cultura, oferecendo antes de tudo um material pra estudo, aprimoramento técnico e apreciação artística.

Para fechar, vou terminar com esse video Elephant Gun, adoro a música e a experimentação desses músicos, do Beirut. Apreciem sem moderação! E reparem na coreografia dos bailarinos!

Foto de Isadora Duncan

terça-feira, 2 de junho de 2009

Vem mulher


Vem mulher...
Transforma teu pranto em dança
Conta sua história
Transforma sua emoção em movimento
E converse comigo sem dizer uma palavra....

Vem Mulher...
Traga todo seu amor, toda sua esperança,
Toda sua força, todo seu sofrimento, toda sua saudade, toda sua alma,
E transforma em dança!!!

Vem mulher...
Traga esta coragem materna,
Esta ligação sagrada com o divino
Pega teu lado mãe
E transforma em dança!!!

Vem...
Liberta-se de suas couraças,
Transforma seus medos em dança!!!

Descubra seu poder
Seu lado sedutor,
Seu mistério,
e hipnotize toda esfera...

Deixe seu corpo leve
E sua alma brilhando...

Sou sua consciência
Chamando-te!!!
Escuta este chamado interior,
E transforma sua sabedoria em dança!!!

Ju Marconato