quarta-feira, 3 de junho de 2009

O artista e o superego

É fato que todo artista se cobra demais, exige de si mesmo algo sobrenatural, e nunca pára de buscar a perfeição. E a perfeição existe? Ou ela é relativa, muda de acordo com o momento e a época, ou melhor... pode ser muitas coisas ao mesmo tempo.

Quem nunca olhou pro passado e se perguntou: Caramba! Como tive coragem de fazer isso? - As da dança do ventre, principalmente - Como usei essa roupa? Como usei esses braços? E etc... por ai vai. Mas não será também um processo, um aprendizado, e se nos limitarmos ao não experienciá-los, estaremos nos limitando a aprender?

Muitas vezes o artista cria e ao mesmo tempo destroi, por achar ruim, isso, antes de mostrar à alguém. E nossa criação, seja ela uma coreografia, uma música, uma pintura ou performance, acaba sendo nosso "filhote" - é horrível receber críticas.

E nessa luta com o superego, que é insconsciente, uma cobrança constante da moral, dos bons costumes, do correto, nem percebemos que anulamos nossos desejos, nossos impulsos... desde "sociedade" deseja.

Assim, deixamos o experimentalismo de lado, a curiosidade, a criatividade, o questionamento, a busca de ver como seria se fosse feito do outro jeito... e isso, para mim, é o ínicio de qualquer processo criativo, seja ele na dança, ou em qualquer linguagem artística.

Antes de ser professora, bailarina de dança do ventre, sou uma artista e sinto falta de ousadia, experimentalismo. Vejo isso em minhas aulas, é mais fácil realizar algo coreográfico, figurativo do que algo libertário e abstrato. As pessoas se auto limitam com medo de errar.

Foto de Marcel Dunchamp

Citarei apenas alguns nomes, porque senão nunca acabaria esse post. O que seria das artes, sem o Duchamp ou Tizan com o manifesto Dadá? Olha um poema:

Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.
Foto de Tzan Tzara

Das nossas artes sem o concretivismo, abstracionismo e a criação dos paragolés e da arte experimental do Hélio Oiticica? Na música com os Mutantes, Secos e Molhados, Lenine...?

E da dança sem Isadora Duncan (existem outros, mas citarei apenas ela)? A primeira a se libertar das duras sapatilhas de ponta, do tuttu, e da rigidez do ballet. Na dança do ventre conhecemos várias bailarinas que ousaram em mudar o figurino, acrescentar alguns passos, misturar músicas, e hoje tem muita gente boa fazendo isso: Adoro!! Apesar de eu ser "clássica", adoro inovar e radicalizar - os opostos se complementam.

Mas porque não falar do Mahmoud Reda? Ele não pegou o popular, acrescentou a dança clássica, para criar espetáculos de folclore árabe? Modificou para criar as apresentações de palco, mas eternizou a sua cultura, oferecendo antes de tudo um material pra estudo, aprimoramento técnico e apreciação artística.

Para fechar, vou terminar com esse video Elephant Gun, adoro a música e a experimentação desses músicos, do Beirut. Apreciem sem moderação! E reparem na coreografia dos bailarinos!

Foto de Isadora Duncan

5 comentários:

Luciana Arruda disse...

esses souberam inovar e ousar, sem perder o bom gosto. sou fã!

Dana el Fareda disse...

Com certeza é muito mais facil copiar que criar, como diz o ditado nada se cria tudo se copia vejo muito isso na sala mesmo, mas se o processo de criação for explorado desde o inicio é mais facil. beijinhus

.: Barbara Moro :. disse...

Oi querida.
Eu particularmente não me incomodo muito com cópias, afinal, tudo é copiado! Tudo tem uma base... E se vc for a pessoa que a outra copiou, melhor ainda! Sinal de que seu trabalho é bom o suficiente para ser copiada! rs

Agora, eu adoro Elephant Gun! rsrs

bjs

Ket/ Blair Boo disse...

Copiar parece ser a única novidade que muitas ousam. triste.

Simone * Zahira disse...

Oi meninonas!!
Valeu pelos coments mas... não era isso exatamente que eu queria discutir...
maaaaaaaaas tb é um assunto legal para um outro post.
Publiquei outro mais explícito!! kkkk

bjinhus