sábado, 8 de agosto de 2009

Música árabe, histórico e algumas formas musicais



Por Aysha Almée, extraído de seu site



Antes do advento do Islamismo, a música era dominada pelas mulheres, tanto que um homem no meio poderia ser considerado efeminado. Juntamente com a segregação dos haréns, músicos homens emergiram nos palcos, imitando as mulheres, usando roupas femininas e henna nas mãos. Estes ficaram conhecidos como Mukhannath (efeminados) e o mais conhecido deles “o pequeno pavão” ganhou o título de “pai da canção”, e ainda assim foi expulso da cidade de Medina por causa de sua profissão. Mais tarde, durante a ascensão do califado, os músicos tiveram lugar garantido nas cortes desde a Pérsia até a Espanha.



Mesmo assim, o Islã tinha uma posição curiosa sobre a música, pois aceitava somente aquelas de caráter devocional e condenava os estímulos das músicas que não eram ligadas à religião. Apesar de não constar nada no Alcorão que condene música e dança, logo após a morte de Mohammad, os califas publicaram a seguinte nota atribuindo ao profeta:

"Música diminui a modéstia, aumenta a luxúria e solapa a virilidade. É como vinho e faz o que as bebidas fortes fazem. Se você precisa da música, no mínimo mantenha sua mulher longe dela.”



Eles acreditavam que a música relembrava sentimentos e emoções, influenciava os batimentos cardíacos e seu poder encorajava as pessoas a perderem o controle e praticarem coisas inaceitáveis, o que causou seu banimento em países de fundamentalismo religioso.



No ano de 750 aproximadamente, os Umayyads instituíram a música como entretenimento em parte da vida da corte em Damasco. Foram muito criticados por serem patronos das artes, especialmente da música, considerada rival do Alcorão. Foram expulsos de Damasco e foram para a região da Andaluzia, na Espanha. Com isto, levaram a tradicional música árabe para Espanha, onde mais tarde foi modificada pelas influências gregas e tornou-se a música árabe Andaluz, que estabeleceu suas raízes no Norte da África.



Seus sucessores, os “abbasids” continuaram a desenvolver a música, porém discretamente e dentro das cortes. Desde então, a música árabe como entretenimento veio ganhando maior aceitação, mesmo nos países mais religiosos.



Na dança árabe, é tarefa da bailarina expressar as emoções solicitadas pela música e durante as improvisações, destacar as qualidades do instrumento que sola, pois a dança árabe é determinada pelo acompanhamento musical.



Ao contrário da música ocidental, ela não desenvolveu o uso da harmonia. A razão básica é que a harmonia depende de um sistema tonal fixo (um espaço invariável entre notas). Toda a escala musical árabe tem certas posições fixas (tons e meio tons) como na música ocidental, mas entre elas existem notas sem lugar fixo e que caem em posições diferentes numa escala cada vez que são tocadas.



As únicas composições que podem incluir harmonia simples são aquelas baseadas em escala ocidental, como é o caso das gravações orquestradas modernas.



Para examinar a música de todos os países árabes, levaria muito tempo e daria o tamanho de um livro, pois a música oriental inclui muitas tradições desde o Iraque até o Egito. Notas, ritmos, instrumentos e estilos de canto variam de país para país; ainda assim, toda a música árabe compartilha de certas semelhanças, como por exemplo a fortíssima qualidade na improvisação e por ser, na sua essência, altamente melódica.



É difícil fazer a distinção entre música clássica e popular e/ou folclórica. A grosso modo, a música clássica é um refinamento da música folclórica ou popular. A música menos sofisticada, ou folclórica, é aquela que acompanha danças tradicionais e de roda, quando pessoas se reúnem informalmente, produzindo sons de palmas e usando instrumentos de percussão como o daff e o tabel.



Hoje, mesmo nos países muçulmanos mais rígidos, a música e a dança ocupa tradicionalmente um lugar especial na vida dos árabes. Os pequenos conjuntos de 05 ou 06 músicos deram lugar a verdadeiras orquestras, com instrumentos como órgão elétrico, metais e até mesmo guitarra. Uma música que, no passado, era principalmente improvisada, torna-se hoje mais estruturada.



Apesar desta estruturação, para apreciar a música árabe é preciso abandonar a expectativa ocidental de que ela será cheia de mudanças óbvias, pois este é o efeito hipnótico desta música: mudanças e variações inesperadas e muitas vezes sutis, que quanto mais ouvimos, mais ficamos surpresos e prontos para discernir suas sutilezas e nuances.



Um breve histórico da música árabe



Temos pouquíssimas fontes históricas sobre a música árabe. Segue abaixo um suposto histórico, resultantes de algumas tentativas de documentação sobre o assunto:

Final do século XIX (Egito):



- A invasão de Napoleão introduziu a notação ocidental para a música árabe que, até então, era quase que totalmente baseada na tradição local.

Início do século XX (Egito):



- Desenvolveu-se o clássico "Tarab" Egípcio, com a formação de uma orquestra clássica egípcia e com o domínio de uma voz. Junto a este crescimento, nasceram alguns famosos músicos e cantores, como Om Kalthoum, AbdeI Wahab, etc.

Metade do século XX (Líbano):



-Crescem e tornam-se famosos, trabalhando em grupos, os irmãos Rahbani e Fairuz. Esse grupo nasceu do boom cultural de Beirute, com os poetas e músicos trabalhando juntos para criar uma nova música com alma própria e diferente do Tarab egípcio. Esta criação manifestou-se em formas de operetas (shows musicais), concertos e recitais. Os Rahbani, com certeza, deixaram sua marca na música libanesa.



Presença da Música Litúrgica:




- É um tipo de música específica que acompanha os versos e as preces do Alcorão ( a “bíblia” muçulmana). Não pode, em hipótese alguma, ser usada para dança e seu uso é exclusivo para fins espirituais.



Algumas formas musicais árabes



Tarab

Estado de transcendência em que o artista e o público alcançam durante a apresentação. É um ingrediente especial para uma boa apresentação de música clássica. Para ouvir o Tarab, dizem que é preciso uma boa dose de relaxamento e disposição para parar um pouco, beber algo agradável e apreciar com calma e sem pressa a música. Ex: Oum Kalthoum, Ahmad Adaweia.



Atéba

O atéba é uma forma folclórica de cantar nos países orientais. Consiste de quatro versos seguidos de um formato e métrica específicos. O principal aspecto do atéba é que os primeiros três versos precisam terminar com a mesma palavra, significando três coisas diferentes, e o quarto verso vem com uma conclusão de tudo. Usualmente, o atéba é seguido por uma dalaouna. Ex: Alain Merheb.



Dalaouna

Outra forma folclórica de cantar no oriente. São canções de amor onde os versos todos rimam com ouna ou ona. Ex: Alain Merheb ou qualquer CD folclórico libanês.



Zajal

Forma popular de poesia improvisada, que é recitada em forma de canção. Uma típica festa Zajal consiste em dois times rivais, provocando um ao outro, numa conversação, argumentando através de poesia. Lembra os repentistas nordestinos, no Brasil.



Nadb

Estilo parecido com o Zajal, porém fúnebre, recitados nos funerais. Ex: Zaghloul d-damour, Syrian nacional zajal team.



Mawwal

É um solo vocal, que é cantado antes que os músicos apresentem a canção principal. Usualmente, este solo é cantado no mesmo tom da canção principal e quase sempre seu tema versa sobre o amor e perdas. Às vezes, é improvisado e considerados como introdução aos ouvintes da canção que será tocada. Ex: qualquer CD libanês.



Andalousiyyat ou Mouwashahat

São formas clássicas árabes, cujas raízes voltam a Andaluzia, na Espanha. Aparentemente, os árabes da Espanha queriam uma música liberta das regras rígidas da música árabe e sua forma e criaram então este tipo de música, com leve toque espanhol e que, por sua vez, nos lembra o flamenco.



Qudud Halabiyya

Formas folclóricas de cantar em estrofes, originárias de Aleppo, na Síria. Ex: Sabah Fakhri.



Rai

Forma de música pop algeriana, que desenha dentro dos estilos tradicionais algerianos e árabes, uma mistura com outras raízes incluindo até mesmo o reggae. É apresentada usando as línguas francesa e árabe. A música Rai provocou controvérsias na Algéria, especialmente a partir do momento em que o movimento pela revitalização islâmica ganhou ímpeto. Os representantes deste estilo têm por direito sido apontados como os “Rebeldes Rai”. O rei da música Rai é Khaled, com diversos álbuns à disposição. Seus shows mostram uma diversidade musical, com canções com traços de reggae e algumas músicas cantadas em francês no lugar de árabe.

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